quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Uso

Chamou-me. E eu fui.
Pensei que seria coisa importante, caso pra se pensar, amor roubado pra pendurar no teto como um lustre em uma sala enorme e vazia. Mas não.
Quis só meus lábios secos de paixão, frustrados pelo que tanto penou dizer e não disse. Quis só as minhas pernas se fazendo de gancho pra agarrá-lo pela cintura, e embargar as minhas palavras de prazer com mais prazer ainda.
Me tomou pelo cabelo e não pela mão como eu preferia, e só fez o que eu quis quando minha vontade coincidiu com a sua.
Fui café pequeno dele e sem cerimônia nenhuma me tomou inteira em poucos goles. No mais, retirou-se do meu botequim no primeiro instante que fechei meus olhos de confiança, que descuidei na oratória, e parei de me esforçar a duras penas pra ele gostar do meu lugar.
Foi embora, não se compadeceu dos meus olhos amanteigados, ainda deixou mancha na mesa e a marca do sapato quando bateu a poeira no tapete. Não parou pra olhar pra trás, nao viu minha bossa nova envelhecendo até virar tango argentino e as minhas pernas-gancho custando aprender a dançar. Só por causa dele, que sendo só ele nem foi tão fino assim.
Que lamento barato esse meu.

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