domingo, 25 de outubro de 2020

Talvez eu não tenha chegado certo à tua catastrófica cena.

Eu nunca cheguei certo em canto nenhum, se te conforta.

Se me conforta, pra ser sincera.

Cheguei errado no mundo.

Toda estranha. Uma e dez da tarde de uma segunda-feira.

Quem nasce a estas horas?

Hora de almoço, todo mundo no corre.

Gente começando a dieta, gente atrasada correndo no asfalto quente pra conseguir chegar menos atrasado no compromisso das uma.

Não tão quente não porque era maio.

Mas mesmo assim.

Eu tava ali nascendo, atrapalhando o fluxo. A única menina do dia. No meio de 8 meninos.

Queria voltar lá a tempo de pegar o meu pai apontando pro berçário.

Dizer que, sabe, apesar de tanto o prodígio não vingou.

Mas como de costume eu ia chegar era errado.

Minha mãe andando a passos lentos comigo enrolada numa saída de maternidade vermelha e branca.

Meu pai abrindo a porta do carro.

Quem teria coragem de estragar esse filme?

Não tenho coragem desde lá.

Cheguei errado à tua catastrófica cena.

Seria exigir demais que eu chegasse certo agora.