sábado, 2 de maio de 2015

Infinitos Castanhos

A primeira vez que vi o cabelo dela, minhas mãos quiseram.
Era tudo o que elas nunca tiveram na vida.
No duro ofício de serem mãos; escrever, dirigir, lavar louça, policiar a mania das unhas roídas, folhear livros e segurar a alça da bolsa; aqueles fios se apresentaram como descanso.
E logo as mãos falaram pros ombros quererem também.
Que mesmo na tarefa difícil e opcional de carregar o mundo, quiseram servir de repouso pra ela na aflição e sempre.
Mas nada se comparou à vontade que meus olhos tiveram dos dela, dois labirintos vãos, um terminava no outro e o outro não terminava. Olhei como se não houvesse mais nada no mundo para olhar, como se ver infinitos fosse possível.
Mas foi a boca dela, sem nem mesmo saber, que convidou a minha. Ela quis de uma mordida a marca, de um beijo o gosto e tudo viria por acréscimo e permissão.
Tudo veio.
As mãos tiveram os cabelos, os ombros a entrega, e os olhos os infinitos castanhos. Tudo num momento só se consumiu, desde a vontade em que as mãos quiseram o cabelo até quando eu, por inteiro, tudo dela quis.

***

Essa coisa de querer é forte.
O que se quer, a depender do que se faz, se tem.