Hoje bateu uma saudade banzeira, mansa, mas agressiva.
Chegou armada até os dentes com lembranças da gente e com o que a gente não viveu.
Não sei do que é feito o que eu sinto diante disso tudo.
Não tenho noção das dimensões do que tenho guardado.
Ás vezes é difícil circular na minha cabeça, como quem anda pela sala pequena de quem coleciona cristaleiras antigas, com cuidado pra não esbarrar em nada.
Mas é inevitável, vez ou outra eu acabo esbarrando.
Tudo ainda é muito grande e ao mesmo tempo delicado e vai ser um desastre tentar tirar coisas tão significativas agora sem comprometer nenhum pequeno detalhe do que eu ainda quero manter.
Você me levou a um lugar bonito dentro de mim que eu não conhecia e até então eu não sei voltar nele sozinha.
Eu me perco tentando achar o caminho e me deparo com o jeito que você deixou o lugar em todas as trilhas que tomo e me pergunto o quanto eu estava distraída pra não ter te visto ocupando assim todos os meus espaços.
Você foi a sombra criteriosa e discreta, me perimentrando, fincando suas bandeiras em cada vértice de mim, em cada terreno que encontrava, baldio e sem futuro, onde você não quis construir nada além do que deixou pela metade.
Olho em volta e tudo me soa como um convite, pra voltar mais tarde, quando eu tiver mais sabedoria, quando eu tiver mais coragem pra recolher e jogar fora tudo que me avisa que você esteve aqui, quando eu estiver mais preparada pra entender, sem que doa, que você não deixou nenhum mapa, nenhum atalho, nenhum sinal, que me ajudasse a encontrar sozinha quem eu conseguia ser quando estava contigo.