quinta-feira, 28 de abril de 2016

Amok

Ok,
foi você quem me atingiu primeiro.
Mas olha pra mim,
presta atenção.
Eu já sou a seriedade,
imagina olhando assim.
Vou sair.
Forra essa cama,
porque eu não volto.
Troca as cobertas,
abre as cortinas,
olha essa luz invadindo as venezianas!
Quantas vezes pedimos pro sol demorar mais um pouco?
Vê, hoje ele veio foi cedo.
Tão inconveniente quanto quando aparecia ainda no cais,
mas se desculpava parecendo surgir não do céu mas do mar.
O sábado nascia lindo e cruel como um cristal afiado.
O tempo passava me encurralando no teu lado.
Eu me entristecia e você dizia:
"ainda tem tanta coisa".
Não tinha, né.
Não tivemos tanta coisa assim.
Eu sabia, mas calava,
recostava a cabeça no teu ombro
esperando que você entendesse
que meu senso sobre sentimento nunca foi tão comum assim,
que minha tosse nem era o cigarro
mas artificio pra dissipar o silêncio que me decepava,
e eu entendia que ele nunca ia achar o caminho do conforto
enquanto fôssemos um pro outro uma ameaça.
Você na reta guarda,
eu pronta pro contra-ataque.
Travamos um conflito sem combate nenhum
pra algum dos lados ele seria suicida.
Mas qual lado?
Quem a uma hora dessas quer perder a vida?
Eu avancei, Você esquivou. Relutei.
Te esperei pra mais tarde.
Pedi cessar-fogo.
Mas de que adianta baixar as armas mas não soltá-las?
Não soltamos.
Talvez tenha sido esse o nosso problema.
Talvez não. Eu até tenho uns carmas aí.
Posso usar de tanto como justificativa
que sirva ao menos pra interromper meus questionamentos mais tarde.
Eu ainda não sei se consigo lidar com a paz,
mesmo sendo isso que ando buscando.
E quando eu tô sozinha eu juro que me pergunto,
pra quê se poupar tanto?
Me diz? Pra quê?
Mas eu tenho meus motivos né,
você também tem os seus,
então vamos nos desculpar,
sem culpa,
somos tão jovens
e estamos tão frágeis.
Não precisamos passar por isso, depois de tudo.
Ninguém quer se dar por vencido.
A gente sempre entendeu que
essas coisas nunca foram fáceis
tanto é que as pessoas dizem que 'é assim mesmo'.
Tinha que ser assim mesmo?
Mas tá tranquilo, já tô indo.
Mas só pra desencargo de consciência,
quem venceu?
Não sei se você.
Não sei se eu.
Acho que ninguém. Convém dizer.
Mas, beleza. A gente se vê. Adeus.

***


Amok Palavra de origem balinesa que refere-se a uma técnica de batalha que consiste em lançar-se subitamente conta o inimigo em uma fúria ensandecida, travando um combate corpo a corpo suicida e sangrento.