segunda-feira, 28 de março de 2016

Tua

Eu nunca pedi que você ficasse mais tempo do que quisesse ficar.
Eu nunca pedi nem que você ficasse.
Sou admiradora plena da liberdade, da espontânea vontade, e você sabe disso.
Você nunca decidiu ficar porque eu pedi.
Não é por orgulho, meu bem, veja bem, apesar de parecer ser isso sim.
É que me perturba a ideia de te ter não porque queres ser meu mas só por eu querer ser tua.
E pra ser tua eu não preciso de você, eu sou tua mesmo sozinha.
Eu sou tua mesmo não sabendo o teu paradeiro, e quando me pergunto por onde andas estou sendo tua também.
Sou tua quando teu nome surge da boca de algum amigo, e enquanto procuro, dos outros, saber mais de ti, mesmo usando desculpas fajutas, estou sendo tua ainda mais.
Sou tua na febre, na noite, no chão do banheiro, na lágrima escorrendo pelo rosto, corpo e ralo abaixo, sou tua na toalha molhada, enquanto seco os cabelos, sou tua quando me olho no espelho e até o meu reflexo se proclama teu.
Sou tua na pista de dança; tua na tua casa, nua, na tua cama.
Sou tua no mais profundo de mim, e quando encontro alguma parte de mim que ainda é minha ela me renuncia pra poder ser tua também.
Sou tua por reação em cadeia, aos poucos em poucos segundos e sou cada dia mais gradativamente na eternidade que tem durado esses dias.
Sou tua de ombro a unha, céu da boca a estômago, vértebra a vértebra se desdobrando por ti.
Sou tua de um jeito que eu nunca consegui ser minha. De um jeito que nunca consegui ser de ninguém.
E por amar tudo que é teu, foi sendo tua que encontrei um jeito de me amar mais.
Sou tua porque me danei a ser, porque eu quis. E mesmo se eu não quisesse, ainda assim seria.

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