quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Eu Preciso Falar Sobre Araras

Animais. Aves de grande porte. Nativas da América.
Indivíduos da família dos Psittacidae.
Essa última eu pesquisei.
Eu amo baleias mas hoje, excepcionalmente hoje, eu preciso falar sobre araras.
Preciso falar do que vai além do que chama atenção, seja o misto de cores fortes e contrastantes ou a forma como voam e como pousam. Preciso falar do que vai além do externo porque é o que vai além do externo das coisas que a gente precisa enxergar.
Para chegar à fase adulta, uma arara leva em média 7 anos. Durante esse tempo vive com os pais, experimentando de um cuidado parental intenso até escolher o parceiro com quem vai permanecer o resto da vida, não só para reproduzir-se e dedicar cuidado com os bebês arara, mas também para trocar carinhos, cuidar, limpar a plumagem e alimentar. Isso durante a vida inteira.
Não é muito incomum encontrá-las na natureza sempre de dois em dois.
Até mesmo num zoológico, se passarmos um curto intervalo de tempo observando, já sabemos ali quem é de quem.
Quando acontece do parceiro morrer, a arara que restou passa a viver sozinha e muito raramente aceita outro parceiro.
O compromisso entre araras é mais que duradouro, é perpétuo, vitalício.
Não queria nem mesmo usar a palavra compromisso, mas dedicação, cuidado, presença. Talvez eu nem tenha achado a palavra certa ainda, porque em nenhum momento há promessa, frases repetidas ou votos.
A natureza deu-lhes asas.
Elas são livres. São livres, inclusive, uma da outra. Mas são livres também para ficar.
É a condução do instinto, está na essência, o que não necessariamente faz parte da condição humana.
Muitos de nós ingenuamente buscamos constantes reafirmações do que o outro tem sido para nós e do que nos tem oferecido, onde fidelidade e lealdade se confundem e a liberdade é esquecida.
Aprendamos com as araras que fidelidade só faz sentido quando é espontânea, despretensiosa, quando não requer que cortemos as asas, quando não nos exige nenhum esforço.
Tenha, por favor, a noção do quanto isso é bonito e uno. Do quanto precisamos ter isso no nosso rodapé de princípios e intenções.
Hoje mais do que nunca eu tenho falado sobre araras.
Sobre o quanto são exemplos, uns coloridos exemplos.
Não apenas de monogamia, a palavra é muito científica pra agora, mas de estar junto por vontade.
De cuidado.
De não largar.
De não abandonar.
De ser o outro.
De não impedi-lo de voar, mas de voar junto, pra onde quer que ele voe.


***
Sejamos araras.