quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Um Quarto de Quarta [Conto]

Éramos os dois, sozinhos.
O conheci na tarde daquele dia e ele, na minha balança, pendeu pro lado do desejo.
"Que bosta! Eu não posso mais conhecer ninguém interessante?!"
Mas ele tinha um diferencial: era interessante demais.
Nem me passou pela cabeça perguntar o nome, e mesmo se soubesse teria esquecido. Essa sou eu na iminência de ficar bêbada.
Fui pra casa dele, "passar o tempo", mas o que me levou lá mesmo foram as segundas intenções. Eu sozinha sequer teria acertado o caminho. Eu tinha que tê-lo aquele dia.
Cenário e situação dignos de livro. Um silêncio quase incólume que só deixava escapar as respirações, risadas de alguém na casa do lado, passos de quem passava na porta.
"Vocês são bem animados." "Que horas são?" "Pelo menos a música é boa."
A conversa seguia cordial, quase chata de tão séria. Eu já estava ficando sóbria e, consequentemente, envergonhada. Mas, tarde demais, eu já estava ali, precisava terminar, precisava dele. Eu poderia ir embora a qualquer momento, mas não fui.
Minha mão presa nos nós dos seus cabelos, eu presa no nó que era nós dois, preocupada em fazer o efeito que a dose não fez.
Ele tinha olhos tão macios que quase não me fez mal algum dizer que tinha alguém o esperando.
"Mas que droga! Eu tenho que colocar o carro na frente dos bois sempre?!"
Quase esmoreci! Mas a sua boca, assim como os olhos, era macia igual.
Eu pedi um beijo pra aquele desfecho.
Ele me deu e eu não precisei pedir mais nada.
Eu virei o jogo, ele me virou, e revirou.
De ponta cabeça, ao avesso, ao contrário, em quatro atos.
Ele de tudo me pediu. De tudo eu o obedeci.
Caí de súbito sobre seu peito e ouvi uma música, quase não conseguia na voz ofegante e rouca, mas pedia que eu esquecesse.
Pedido negado, meu doce. Mas até nunca mais.


***